Eu? Vestir-me de pano de saco?

“Ó Deus, as águas me sobem até o pescoço;
afundo na lama; não tenho apoio para os pés.”

                 Há algum tempo tenho pensado a respeito da humilhação. Penso, algumas vezes, a partir de uma visão cristocêntrica, profética e também eclesial. Confesso que me preocupo! Não sei  se mais comigo ou “contigos”!
                No passado distante, no antigo testamento bíblico, um sinal evidente à prática da humilhação era a exposição através do uso do pano de saco - um tecido grosso, feito geralmente de pelo de cabra. Ao usá-lo, o humilhado demonstrava aflição, tristeza e arrependimento. Era um sinal de lamentação por conta da morte e ou calamidades. Um exemplo disso é Jacó que, ao saber da falsa morte de seu filho José, “rasgou as suas vestes e se cingiu de pano de saco, e lamentou o filho por muitos dias“. Já o profeta Daniel, evidenciando sua súplica em oração, disse: “voltei o rosto ao Senhor Deus, para o buscar com oração e súplicas, com jejum, pano de saco e cinza”. Há também demonstração de arrependimento em massa pelos filhos de Israel depois do cativeiro babilônico quando, trouxeram terra sobre si e se vestiram de pano de saco a fim de confessar seus pecados diante do Senhor.

                Quem dera isso fosse praticado em tempos hodiernos!
                Se antigamente a humilhação, a confissão, o arrependimento era demonstrado com atitude de se dispor da vergonha, o que se vê hoje é um circo de horrores. Não se confronta mais o pecado como deveria. Não se faz mais uso, quase nem mesmo do perdão para o arrependimento. Claro que na aliança de Cristo não há evidências de uso de quaisquer coisa que seja para externar a humilhação. Essa prática, aliás, também foi condenada por ser usada como atos externos “insinceros”. A grande mudança ocorre em nosso comportamento quando somos transformados pela palavra do Cristo vivo!

                Em gabinetes pastorais, quantos tratamentos de adultérios têm sido feito de maneira quase intimista. Reúnem-se os líderes, o casal  ou somente o adúltero, adúltera, e ali, entre as quatro paredes é confessado e perdoado. Logo tudo parece estar normal. Mas eu me pergunto sempre se, realmente, a todos quanto interessa, o problema é confrontado. Quantos adúlteros que, arrependidos dos seus atos, se humilham perante os pais, os filhos, irmãos, igreja, e pedem perdão? Mas você deve se perguntar: mas é preciso? Não é somente ao traído, traída suficiente se arrepender?
                Tratar sobre pecados é algo bem delicado, principalmente quando essa prática fere ao próximo. Quando meus pecados invadem o espaço do outro que é do meu círculo, provavelmente ele causará danos. Um vínculo foi quebrado. Agora a confiança foi tocada! Quando alguém adultera numa relação matrimonial, a família também sofre. Os filhos são expostos, os parentes não sabem como agir. Se isso acontecer em um seio que não conhece o cristianismo atuante como apaziguador, pior será. No entanto, se isso acontece em um lar onde todos professam a mesma fé do evangelho de Cristo, sentir-se arrependido não é suficiente. É preciso ir além. É preciso confrontar a questão de maneira que todos ao redor possam experimentar o mesmo sentimento. É preciso que todos possam exteriorizar o que há dentro de si. É preciso que as lágrimas lavem os corações.

                Talvez, hoje, devêssemos nos vestir de pano de saco e nos cingirmos de cinza. Talvez devêssemos sair às ruas gritando o quanto nosso caráter é ruim. Talvez precisemos nos livrar da vergonha de ter vergonha! Talvez devêssemos parar de sermos hipócritas e realmente acertamos nossas contas, ainda que, aparentemente tarde.
                Quando há arrependimento, há perdão. Quando há perdão, há sinceridade. Quando há sinceridade, não se vive às escuras. Quando se está às claras, tudo é evidente, inclusive, o verdadeiro amor. 
Realmente preciso me vestir de pano de saco.

              

                Por Edilaine M. Vidotto Rech

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